domingo, 7 de fevereiro de 2010

A (Des)Ordem Internacional

A (Des)Ordem Internacional

Uma das consequências do Pecado Original, da Queda da humanidade, foi a construção de relações assimétricas, de domínio, entre indivíduos, categorias sociais, raças e nações. Nesse caso se enquadra o surgimento dos impérios, das expansões imperiais, do fenômeno do imperialismo, com todo o seu cotejo de violência física, emocional e cultural e de todo o tipo de exploração. A grande consolação é que todos os impérios surgem, têm sua ascensão e sua queda. Como já se disse: “A História é um cemitério de impérios”, basta olhar para trás, para uma grande lista. A cegueira do pecado impede os impérios posteriores de aprender com o que aconteceu com aqueles que os antecederam.

A Idade Moderna foi marcada pela expansão imperial de Portugal, Espanha e Holanda. A Idade Contemporânea conheceu o Império Otomano (turco), o Austro-Húngaro, o Russo, o Francês, e particularmente o Inglês, o maior de todos os tempos: um quinto do território e um quarto da população do globo. Seu apogeu foi atingido no reinado da rainha Vitória, em meados do século XIX, quando “o sol nunca se punha sob a bandeira de sua majestade”. O fenômeno imperial moderno e contemporâneo é conhecido como colonialismo.

Quando o movimento de independência triunfa na África e na Ásia, conhecemos o neo-colonialismo: a tutela pelas potências históricas sobre suas ex-colônias, notadamente no campo da economia. As duas Grandes Guerras do século XX concorreram para o declínio das antigas potências imperiais europeias. Após a Segunda Guerra Mundial, o mundo viveu a polarização entre duas superpotências: os Estados Unidos e a União Soviética, no que foi denominado de “guerra fria”. Essa bi-polaridade lembrava outra da Idade Antiga: entre Roma e Cartago, com as “guerras púnicas”. A derrota de Cartago resultou no mundo monopolar da “pax romana”. A derrota da União Soviética resultou no mundo monopolar da “pax americana”, ambas impondo o seu domínio, a sua cultura e o seu papel de polícia mundial. Por outro lado, dois impérios sucessivos eram portadores da mesma língua e cultura: a Inglaterra e os Estados Unidos.

A chamada “globalização” nada mais tem sido do que um desdobramento do colonialismo e do neo-colonialismo, com seu unilateralismo, melhor denominado de “mundialização” do modo americano de pensar e de produzir, com suas diversas faces. Como sempre, cada império se sente portador de uma missão civilizatória para os “bárbaros”, um sentido de “destino manifesto” com chancela divina. Todos os impérios procuram convencer os povos dominados de quão positivo é para esses essa dominação. Cada império promove em cada povo dominado uma parcela de simpatizantes, colaboracionistas ou associados, como acontecia politicamente com os herodianos e culturalmente com os saduceus na época de Jesus.

O “choque de civilizações” entre o Ocidente, o Islã e a China, o surgimento dos emergentes BRICS (Brasil-Rússia-Índia-China-África do Sul) e do G-20 parecem indicar que as mudanças geopolíticas estão se dando mais rápido do que esperado, sem que isso signifique muito para os oprimidos e os excluídos. As culturas locais lutam para sobreviver e trazer sentido e identidade ao perplexo e padronizado homem-consumidor dessa fase da História.

O Brasil tem uma população vivendo em vários estágios, do primitivo ao moderno e ao pós-moderno. A nossa latinidade se faz inferiorizada e atingida pelo rolo compressor da importação cultural. Os cristãos evangélicos brasileiros, que em sua ingenuidade consideram o atual Estado de Israel como sucessor do Israel bíblico e os Estados Unidos como um “novo-Israel”, tem sido presa fácil de cooptação pela nova ordem imperial, legitimando-a, ausentes da elaboração de um projeto nacional de soberania e de afirmação de dignidade da nossa cultura e dos nossos interesses, ou pela ausência de atos críticos-proféticos, e de propostas pela superação da presente desordem, em favor de um mundo novo possível, apesar do pecado.

Aceitarão os(as) candidatos(as) as próximas eleições presidenciais, passivamente, o papel de gerentes consentidos regionais sob a tutela do “império benevolente”, quais herodes temerosos dos pôncios pilatos, das legiões e das fortalezas antônias? E os eleitores crentes estão conscientes dessa (des)ordem e aspiram por uma ação soberana do Senhor da História, que exalta os abatidos e abate os exaltados?

Paripueira (AL), 07 de fevereiro de 2010,
 Anno Domini.

+Dom Robinson Cavalcanti, ose
Bispo Diocesano

                                          REVERENDO SAMPAIO.

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