quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Cabeça de Mulher...

Cabeça de Mulher


Conversando com uma vizinha e amiga muito querida, a Gisa, percebi que ela estava agitada, preocupada com seus muitos afazeres e compromissos. Apesar de estar ali, sua cabeça não estava. Compartilhei também algumas preocupações e percebi que apesar de estar ali, minha cabeça também estava em outro lugar, aliás, em muitos outros lugares. Mulheres sofrem desse mal...

Entramos no assunto e logo ela me perguntou: "Você já notou que problemas de ansiedade, depressão, insônia e angústia acometem mais mulheres do que a homens?" Respondi que sim, que já havia notado. Temos tantos afazeres, que fica difícil não "surtar". Ela sorriu, olhou no relógio e percebendo que já passavam das 22h, despediu-se. No mesmo instante em que fechava a porta, agradeci a Deus por aquela amiga e confidente. Um verdadeiro remédio para alma.

Preocupada com o adiantado da hora, corri para ajudar meu esposo com a rotina pré-sono de nossos filhos: leite, dentes, xixi, pijama, historia, oração, conversa furada, risadas e o tradicional copo d'água pós beijo de boa noite. Incrível como crianças sentem sede depois do último boa noite. O corpo já não se aguentava em pé. Recolhi os brinquedos que ficaram espalhados pela casa, guardei algumas peças de roupa e coloquei outras para lavar. O marido, exausto pelo dia de trabalho, tentou ler um único capítulo de um livro, mas não teve sucesso. Dormiu no segundo parágrafo.

A chuva estava forte lá fora. Tenho a impressão que a quantidade e intensidade de raios aumenta a cada ano que passa. Espero que as crianças não acordem com o barulho dos trovões. Ah! Preciso deixar o leite do caçula pronto pra amanhã... Nossa, as janelas da cozinha ficaram abertas! O chão está ensopado! Vou passar uma pano rápido, amanhã limpo direito. Poxa Mith, você está sem água, tadinho! Vou encher o potinho pra você. Senhor, que chuva forte!

Preciso dormir, não aguento mais. Ah, meu remédio! Ainda bem que lembrei antes de deitar. Boa noite Mith! As luzes estão todas apagadas. Vou colocar meu pijama, escovar os dentes e deitar. Fiz xixi agora pouco, não estou com vontade. 

Bom, por hoje é só. Hummm, não marquei o pediatra das crianças de novo. Que cabeça a minha! Vou anotar em um papel e pendurar na geladeira. De amanhã não passa! Pronto, agora vou deitar. Como é bom poder esticar as pernas... Espero dormir logo. Uau! Que clarão no quarto! Lá vem um trovão... Nossa, foi dos grandes! 

"Mamãe, não consigo dormir com o barulho dos trovões..." 

Meu Deus filha, que susto! Nem ouvi você entrar. Deita aqui do lado da mamãe. Vira pra cá, vira pra lá e nada... "Mamãe, tô com muita sede". Ai filha, você já tomou água. "Mas eu não estou conseguindo dormir, preciso tomar um pouquinho de água". Vamos lá então, você toma água e depois vai pra sua cama, ok?

Bom, acho que agora consigo dormir. Será que tranquei a porta? Não lembro... Ah, deixa pra lá, vou dormir assim mesmo. Hum, maldito xixi. Isso é hora? Não vou levantar, me recuso. Mas parece que minha bexiga vai explodir! Dizem que faz mal segurar o xixi... Vou ter que levantar. Bom, aproveito pra ver se tranquei a porta.

Ufa, que alívio! Ainda bem que levantei, não aguentaria a noite toda. A porta estava aberta, sabia! Pronto, agora chega, cama! Preciso dormir, preciso dormir, preciso dormir... Nossa, coitada da Ingrid. Como o marido dela foi capaz de fazer uma coisa dessas? Seu coração deve estar em pedaços... Amanhã sem falta preciso ligar ou mandar um e-mail. Esse caso renderia um texto para o blog...

Preciso também preparar a aula de amanhã, tirar algumas xerox e comprar um material na papelaria. Ah, não! A Raquel precisava de crepom para um trabalho da escola. Esqueci completamente! Amanhã vejo se consigo com alguma vizinha. Dorme Daniela, dorme!

Como é difícil desligar a cabeça. Também, com tantas coisas pra lembrar... Precisaria de uma secretária. Ai, esqueci de tirar a carne do freezer. Parece brincadeira. O pior é que se não tirar agora não consigo temperar na hora que acordar. Lá vamos nós... Espero que seja a última vez. Hum, o lanche e os uniformes! É melhor separar agora. Se deixar pra amanhã cedo vai ficar muito corrido. Preciso avisar a professora que o copinho de água do André não voltou. Aproveito para enviar o dinheiro e a autorização para a excursão da Raquel.

Pronto! Deixa eu dar uma olhada geral pra ver se esqueci de mais alguma coisa. Bom, acho que agora posso dormir. Seria perfeito um botão de desligar a cabeça. Homens dormem com tanta facilidade... Meu esposo está roncando há mais de uma hora. Que inveja! Bom, chega, vou dormir. Preciso dormir!

Credo, acho que esse raio caiu na minha janela, que estouro! Lá vem o estrondo: 3, 2, 1... Meu Deus, que barulho! Espero que as crianças não acordem. Ui, que ventinho gelado. Vou ter que me cobrir com o lençol. Xiiii, não coloquei lençol para as crianças, estava tão quente... Mas que mãe consegue dormir sabendo que seus filhos podem estar sentindo frio? Vou ter que levantar, pela décima vez.

Pronto, estão cobertinhos. Acho melhor colocar mais um paninho para o Mith também. A cozinha é mais gelada, tadinho. Bom, acho que é só. Coitada da minha planta... Nunca lembro de colocar água. Ela está tão murcha. Vou colocar agora, não vai levar nenhum minuto. Prontinho! Meu Deus, esse dia não tem fim. Não sinto minhas pernas. Vou dormir.

Ai... que alívio esticar as pernas. Nossa, já é tão tarde. Senhor, me ajuda a desligar. Não quero pensar em mais nada, estou tão cansada... Outro raio! Trovão em 3, 2, 1...

"Mamãe, vem deitar aqui comigo, estou com medo dos trovões..."

...

Na manhã seguinte:

Marido: "Nossa, que noite restauradora! Nada melhor do que dormir com o barulho da chuva... E você amor, dormiu bem?"

Eu: "Preciso de mais umas duas horas de sono... estou tão cansada!"

Marido: "Nossa amor, acho que você precisa tomar alguma vitamina. Dorme cansada, acorda cansada... Isso não é normal!"

Eu: "Pois é, vou marcar um café com a Gisa (tsc, tsc...)"


Esta é uma crônica baseada em fatos reais. Se você é mulher e também sofre deste mal, recomendo que leia: Os excessos da natureza humana


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