Um recado de Mahatma Gandhi à igreja brasileira
Uma das figuras mais marcantes no mundo missionário do Séc. XX foi sem dúvida o missionário americano de tradição metodista Eli Stanley Jones. Não apenas a sua missiologia prática foi marcante, mas sua teologia saudável e sua mente brilhante fez dele um dos mais significantes intelectuais dos seus dias, tendo livre acesso às elites intelectuais e a chefes de estado por onde andou. Sei que alguns poderão me intitular de exagerado, mas será apenas mais um título sem importância, porém, pessoalmente acredito que se William Carey foi o “Pai das Missões Modernas” no Séc. XVIII, sem dúvida Eli Stanley Jones foi o mesmo no Séc. XX. Inclusive foi nominado para receber o Premio Nobel da Paz pelo seu esforço nas negociações para a pacificação da Ásia, África e em especial no estabelecimento da paz entre os Estados Unidos da América e Japão.
Eli Stanley Jones nos deixou um legado fabuloso em literatura. Seus livros, que apresentam Cristo de uma forma clara aos leitores, e alcançou não apenas os cristãos, mas em especial hindus, muçulmanos e ateus. Devido à sua grande ligação e amizade com Gandhi, foi encorajado a escrever a biografia deste, e foi exatamente esta obra bibliográfica que, uma vez lida pelo Dr. Martin Luther King Jr, influenciou definitivamente a luta em defesa dos direitos dos negros norte americanos. Martin Luther King Jr valeu-se da mesma filosofia de Gandhi da “não violência”, segundo o próprio Luther King confidenciou à Eunice Jones Mathews, filha de Eli Stanley Jones.
Depois de um abençoado ministério missionário que alcançou vários países, foi na sua amada Índia que Jones veio a falecer no dia 25 de Janeiro de 1973. E em homenagem a este grande homem, e na celebração dos 41 anos da sua morte, resolvi escrever este artigo.
A estratégia evangelística de Eli Stanley Jones incluía alguns elementos importantes, segundo ele mesmo nos indicou em seu livro “The Christ of The Indian Road”:
Seja absolutamente franco [1] - Segundo Jones não deve existir qualquer camulfagem em nossa apresentação do evangelho. As pessoas precisam saber exatamente o que elas irão ouvir. Este princípio nos serve como um sério alerta para aquilo que chamamos de evangelismo estratégico. Não tenho nada contra sermos estratégicos em nossa evangelização, mas não devemos confundir estratégia com camuflagem, para não cairmos naquilo que é propaganda enganosa.
Anuncie de antemão que não haverá ataque a religião de ninguém [2] - Segundo Jones, se existir algum ataque, este ataque deve ser feito pela apresentação clara do evangelho de Cristo, ele é o ataque, qualquer outro que possamos fazer é arrogância e superioridade na nossa parte. Precisamos abandonar a tendência evangélica de tentar construir o evangelho sobre a ruína da fé alheia.
Permita que as pessoas façam perguntas [3] - Precisamos ter a coragem, humildade e destreza para responder às perguntas que nos podem ser feitas. Infelizmente, parece que temos medo das perguntas, e se não sabemos a resposta temos a tendência a agir com indelicadeza ou dar respostas vagas. Um sinal de humildade é dizer: “Não sei lhe responder esta pergunta.”
O cristianismo deve ser apresentado como o próprio Cristo [4] - O cristianismo não pode ser apresentado como a cultura de Deus, nem como a cultura ocidental, muito menos denominacional, nem como um caminho alternativo a Cristo. Ele é a mensagem, ele é o caminho.
Cristo precisa ser interpretado como uma experiência real de vida e não como mero argumento teológico [5] - Neste ponto precisamos entender que as palavras e a vida do apresentador do evangelho devem ser condizentes. Infelizmente esta não tem sido a realidade de muitas das igrejas e líderes cristãos, cuja vida e palavras se contradizem. Pregam a Cristo, mas seguem o materialismo e tantos outros deuses destes dias.
São princípios simples, mas bastante significativos e relevantes para os nossos dias onde o evangelho cai em descrédito, embora igrejas estejam inchadas com pessoas às quais não conhecem a Cristo e não são conhecidas por ele.
Conta-se que certa vez convidaram Mahatma Gandhi para participar de um culto, quando ele ainda vivia na África do Sul, segue a sua impressão pessoal da igreja: "O culto não causou nenhuma impressão favorável em mim. O sermão parecia-me sem inspiração. A congregação não me impactou, uma vez que já sou religioso. Eles não pareciam um grupo de almas piedosas, em vez disto, eles pareciam ser pessoas de mentalidade mundana, que vão à igreja apenas por recreação e costume.”[6] Como seria se ele visitasse uma de nossas igrejas estes dias?
Certamente que críticas como esta nos doem na alma e ferem nosso orgulho cristão, especialmente vindo de um hindu. No entanto, as críticas que chegam a nós como antíteses das nossas ações devem nos levar a considerar seriamente a possibilidade de estarmos errados. Embora a maioria de nós não saiba ou note, mas muitos pesquisadores, nas áreas da antropologia, sociologia e filosofia frequentam cultos cristãos como parte de seus trabalhos acadêmicos, e muitas das vezes as conclusões que estes pesquisadores chegam nos são vergonhosas, devido àquilo que observam como “culto cristão”. Se você acha que não devemos nos preocupar com o que estas pessoas pensam e escrevem, veja o que o apóstolo diz: “Pelo contrário, é necessário que ele tenha bom testemunho dos de fora, a fim de não cair no opróbrio e no laço do diabo.” (1 Timóteo 3:7).
No seu primeiro encontro com Mahatma Gandhi, Eli Stanley Jones disse que a primeira coisa que fez foi fazer-lhe um pergunta, embora na ocasião ele fosse apenas o Sr. Gandhi, isto antes de se tornar conhecido como “Mahatma” (Grande Alma), e a pergunta foi: “Como nós cristãos podemos fazer para que o cristianismo seja naturalizado na Índia, e não mais identificado com uma cultura e um governo estrangeiro, mas como uma parte significativa no estabelecimento da nação Indiana? O que você, como um líder hindu na Índia me sugeriria para tornar isto possível?”[7] Uma pergunta corajosa feita para alguém que certamente diria toda a verdade, nua e crua. Quando penso no cristianismo hoje, nossa pergunta à sociedade poderia ser semelhante: “Como nós cristãos podemos fazer para que o cristianismo não seja associado com aquelas posturas anti-bíblicas e que tanto escândalo traz ao evangelho? O que nós como cristãos podemos fazer para contribuir para o fortalecimento e crescimento da sociedade brasileira?” Será que teríamos esta coragem e esta simplicidade? Imagine sua igreja com a iniciativa de ir pelas ruas do seu bairro perguntando às pessoas como podem ser mais relevantes e participativos em suas vidas? Embora com toda essa corrupção e imoralidade que assolam a política brasileira, como seria fazer esta pergunta ao governo?
Irei concluir este texto com a resposta de Mahatma Gandhi [8]:
Em primeiro lugar eu gostaria de sugerir que todos vocês pastores, missionários e cristãos vivessem mais à semelhança de Cristo.Que vocês pratiquem a vossa religião sem adulterá-la ou torcer a sua mensagem.Que vocês amem mais e enfatizem o amor, pois o amor é a mensagem central do cristianismo.Estudem mais a religião alheia e procurem por alguma coisa boa que possa existir nelas, no sentido de serem mais simpáticos com aqueles que são diferentes.
Eis ai uma boa lição para todos nós!
Luis A R Branco é colunista do Genizah .
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