domingo, 31 de janeiro de 2010

Nem Sempre Erotismo

Uma visão correta das múltiplas manifestações individuais e sociais do sexo e do corpo faz-se necessária como esclarecimento e discernimento para a conduta cristã. Sexualidade, no sentido amplo, amor erótico, erotismo, afeto, amor e estética, são conceitos e dimensões cuja diferenciação é de suma importância na vida e no relacionamento do ser humano. Problemas práticos e categorias mais teóricas serão alternados no presente capítulo, visando um alcance integrativo em uma maneira cristã de ver as coisas.

Masturbação
Um dos mais agudos problemas de consciência que encontramos entre os jovens – principalmente do sexo masculino – é a masturbação, ou auto-erotismo. A tradição religiosa – baseada em uma errônea interpretação do episódio de Onã (coitus interruptus) – tem colocado essa prática entre os mais terríveis pecados. Autores contemporâneos a têm classificado de "miséria" ou identificado com "o corpo do pecado da carne" de que fala o apóstolo1. Em decorrência da ausência de preceito bíblico proibitivo ou classificação como pecado, os estudiosos cristãos de nossos dias sentem-se em liberdade de lançar mão das modernas descobertas científicas, para o seu devido esclarecimento.

Durante a infância, a masturbação aparece como uma forma de descoberta progressiva do próprio corpo e como fase natural na evolução da sexualidade, e, como tal, não deve ser vista com assombro, mas como fenômeno normal.

Embora a prática seja encontrada na idade adulta, como forma de compensação para a ausência de relações sexuais, ou de satisfação de indivíduos tímidos, solitários ou egoístas, é na adolescência que ela atinge sua maior incidência. Nessa fase entra, de maneira quase explosiva, em funcionamento pleno uma série de órgãos caracterizadores da sexualidade.

Não deixando de condenar os excessos, que em todas as práticas pode ser danoso, o Dr. Sha Kokken assim se expressa:

O auto-erotismo moderado, em ambos os sexos, é um meio de satisfação ou relaxamento da tensão psicológica, e traz paz à mente ou mesmo aumenta a eficiência do trabalho.

Dependendo de como é usado, o auto-erotismo pode ser uma saudável válvula de escape para mulheres e homens solteiros. É um benefício para a sociedade se usado apropriadamente para extravasar o desejo sexual que, de outra forma, levaria às relações sexuais violentas e doentias2.

Esse próprio autor reconhece que a prática em um sentido é antinatural, porque não resulta na união real com uma pessoa do outro sexo. Mas essa união é regulamentada social e teologicamente, não podendo ser efetivada ao mero capricho instintivo – como entre os irracionais – e não sendo desejável uma violenta repressão, o auto-erotismo funciona como uma compensação transitória, até que o alter-erotismo possa ser devidamente vivido.

Um dos teólogos que se dedicou ao estudo do assunto, o inglês Leslie D. Weatherhead, concorda com os dados científicos, não considerando a prática como condenável em si, mas que pode levar a um tipo de pecado: os desejos impuros, dado o fato de que o que se masturba recorre, frequentemente, ao auxílio de devaneios eróticos intencionais. Para tanto, sugere que, em vez de se encetar uma "batalha" de autodisciplina, vinculada a uma excessiva consciência de culpa, deve-se pensar na graça de Deus, agradecendo pelo que de mal ele não permitiu que se praticasse nas várias esferas do comportamento (pensar na vitória cristã, antes que em derrotas particulares) e deixar-se entregue, todo o ser, nas mãos do Senhor3.

No ângulo prático, o excesso de auto-erotismo vem sempre acompanhado de ociosidade e vida solitária. A ocupação salutar da vida pelo trabalho, recreação e atividades desportivas, assim como a busca da vida em comunidade, são terapias eficazes. Em vez de se reprimir uma energia, de se "lutar" contra os instintos, procure-se usá-los criativamente.

O Sono e o Sexo
Ao contrário da masturbação, a atividade sexual durante o sono deve ser passível de discussão no que concerne à culpa e ao pecado, dada a sua ampla aceitação, como naturalidade, entre teólogos e cientistas.

No jovem de sexo masculino os sonhos eróticos são frequentes, acompanhados, as mais das vezes, de uma emissão involuntária, conhecida como polução noturna, e tem como valor primordial a descarga do estoque supérfluo de sêmen. Outras vezes, é uma resposta a um estímulo recebido durante o dia, inclusive o de forma visual.

Do ponto de vista fisiológico, um jovem pode ter polução cada duas ou três semanas e, algumas vezes, mais frequentemente.

Comumente não se tem instruído os jovens a esse respeito, resultando em estado mental confuso ou insônia. Outros têm apelado para a masturbação para evitar a ejaculação noturna, com vergonha do embaraço que pode ser causado pela presença de "manchas" nos lençóis e roupas.

Segundo o relatório Kinsey, 90% das moças sonham com o sexo oposto. "Das 90%, um terço sonha com a relação sexual, outro terço com a carícia, e o terço restante tem sonhos de amor que não implicam o menor contato com o sexo oposto"4.

Esses sonhos são em menor quantidade que os dos rapazes, e muito poucas vezes levam ao orgasmo. As causas também são diferentes, pois dependem em muito de efetivos estímulos recebidos anteriormente.

Como manifestações normais da sexualidade, os sonhos noturnos, antes que algo condenável, são uma excelente ajuda para a castidade.

Eros e Erotismo
Por um lado temos o conceito de sexualidade em um sentido amplo, abarcando as características físicas e psíquicas resultantes da preponderância no organismo do indivíduo de hormônios masculinos ou femininos. Neste sentido amplo, considera-se o ser humano como um ser eminentemente sexual, e sexual toda interação social. A sexualidade aqui tem uma dimensão neutra, como condição básica do ser.

Diferencia-se, portanto, sexualidade de sensualidade, que é um sinônimo de lascívia, volúpia, lubricidade, sexocentrismo e amoralismo. O ser sexual é uma condição humana; o ser sensual é uma condição de pecado.

Libido é definida como “nome dado em Psicanálise à energia através da qual o instinto sexual se expressa; instinto sexual, energia psíquica que tende à perpetuação da vida”. Todos possuímos libido. Todos somos portadores dessa energia, que pode ser usada, reprimida ou sublimada. O conceito negativo correspondente é o de libidinagem, como uso desenfreado e amoral da libido.

Como se vê, há conceitos positivos e negativos. Há o dado natural, neutro, e há o seu mau uso ou excesso. Não se deve confundir alhos com bugalhos, e combater o dado natural por confundi-lo com seu mau uso. Em assim sendo, não cabe ao cristão ter uma visão depreciativa dos aspectos somáticos de sua personalidade.

A esse respeito escreve José Grau: "Muito diferente, infelizmente, é o que muitos crentes pretendem opor ao erotismo crescente de nossos dias: silenciar o que no amor humano é legitimamente erótico"5. O autor questiona se o fato de termos hoje o erotismo não se deve ao fato de não termos querido ter o eros no passado.

Para ele, o erótico é uma parte integrante das relações afetivas entre o homem e a mulher. "Eros não é o sexo em geral, indiscriminado: não é sensualidade despersonalizada. É, contudo, a expressão amante e corpórea do afeto de um para o outro... O sentimento erótico na Bíblia manifesta todo o deleite que o ser amado desperta no amante, precisamente por ser quem é: o ser amado, concreto e determinado"6.

Isso nos leva a pensar no sentimento, no amor, no tocante ao relacionamento homem-mulher. O Novo Testamento usa o termo agape, significando a entrega de si mesmo ao outro, independentemente da qualidade do outro. É a expressão usada para explicar o amor de Deus pelos homens na entrega do Filho, e o amor que quer derramar entre os homens, pela ação do Espírito no coração dos convertidos. O platonismo no meio cristão tem procurado separar eros de agape, depreciando o primeiro e exaltando o segundo. Não é esse o ensino da literatura bíblica sapiencial (Cantares, Provérbios, Eclesiastes), onde não há lugar para os excessos e perversões, assim como para um certo tipo de ascetismo, que Grau chama de "subcristão". Suas palavras são taxativas: "Como cristãos bíblicos não podemos separar Eros de Agape, nem podemos opor Agape a Eros. Ambos se complementam e constituem os dois elementos básicos, indissolúveis, do amor entre um homem e uma mulher"7.

Não somos sensuais, libidinosos e seguidores da onda de erotismo, mas, pela graça de Deus e por sua vontade, somos portadores de uma sexualidade, de uma libido e de um eros que integram nossa dimensão de humanos, se fazem presente no nosso relacionamento, no nosso sentimento, no nosso amor.

Corpo e Afetividade
O afeto é um elo significativo de sentimento que une as pessoas. A convivência, as afinidades, os interesses comuns alimentam essa afetividade, que se manifesta em um querer bem, em estimar, em se interessar pelo ser do próximo no cuidado, na preocupação, na doação.

A afetividade se faz presente nas relações familiares: marido-mulher, irmão-irmãos, pai-filho, filho-pai. Está igualmente presente no relacionamento entre amigos, companheiros de uma mesma associação e, de forma especial, no namoro, noivado e matrimônio. Quando falamos em vida afetiva temos de ter essa visão maior, e não somente no encontro com o companheiro, com o parceiro amoroso.

A afetividade deve presidir as relações humanas. Toda pessoa normal necessita de dar e receber afeto, de uma interação afetiva. A vida na sociedade industrial das grandes cidades, com seu relacionamento secundário, impessoal, instrumental, tende a aumentar a carência de afeto. Há uma luta pela sobrevivência, uma disposição de competir com o outro, em ver nele um concorrente ou um inimigo. As pessoas se trancam. Não dão, nem recebem, mas no fundo a carência de relacionamento afetivo se agrava. Muitas fugas ou tentativas de solução são encetadas, inclusive pelo sexo, mas – paradoxo dos paradoxos – sexo sem afeto. No fim a frustração maior, a carência maior. A própria família tem diminuído em termos de afetividade, com danos ainda maiores, pois é exatamente aí que ela deveria ser maior, fundamental, desde a infância. A afetividade e a saúde mental se relacionam. O afeto e a maturidade andam juntos.

As paixões violentas, as "prisões de sentimento" entre pessoas de valor duvidoso ("por que ela não deixa aquele sujeito, que não vale nada?"), devem ser entendidas dentro dessa situação geral. As pessoas estão carentes de afeto e se ligam, às vezes, de modo até anormal, com aquela que preenche um pouco dessa necessidade. Há uma sobrecarga no relacionamento afetivo com o parceiro amoroso em razão da ausência de afeto nas outras relações humanas. Se houvesse uma melhor distribuição, haveria melhores condições para um equilíbrio.

E o corpo, entra nessa história?

Fala-se em afeto como "sentimento" descarnado; como relação "de alma para alma", o que não é correto. Já vimos a integralidade do ser humano, a relação indissociável corpo-espírito. O afeto tem uma expressão simbólica por gestos, atitudes, palavras, que são expressados pelo corpo, pois a alma não tem cordas vocais nem ergue os braços. Há toda uma energia em nossos corpos, e um encontro de energias entre os corpos, uma energia que traduz sentimentos. Um dos grandes problemas de nossa cultura tem sido separar os corpos na união de sentimentos e, pior ainda, reservar o corpo apenas para as uniões eróticas. O carinho, o afago, o abraço, o ósculo, desapareceram das famílias e da família da fé, relegados às alcovas. Há afeto e afeto, afago e afago, afetivo (sentido amplo) e erótico (sentido restrito). Nas culturas onde isso é vivido desde a tenra idade a separação é feita naturalmente. Na América Latina – e em outras partes do Ocidente – esse contato afetivo-corporal é reservado quase que unicamente para a relação dita amorosa. Há um constrangimento, uma vergonha, um encabulamento e até um escândalo, quando se tenta quebrar esse tabu em relação às outras pessoas. Nas comunidades cristãs de algumas regiões algum progresso tem sido feito. E é a comunidade cristã que tem que dar o exemplo (e a única que tem condições autênticas) nessa forma de expressão, que a igreja primitiva conhecia e os apóstolos recomendavam.

O ósculo fraterno já era usado entre o povo de Israel, no passado, assim como na época de Cristo8. No período apostólico é recomendado por um Paulo, de formação helênica, como por um Pedro, de formação hebraica, para comunidades tão diversas como os romanos, os coríntios e os tessalonicenses. "Saudai-vos uns aos outros com santo ósculo"9. Uma moderna tradução parafraseada "adaptou" o texto às conveniências repressivas: “E, quando se encontrarem, apertem-se as mãos afetuosamente"10. Sobre esse costume, escreve R. V. G. Tasker:

O beijo santo, com que eles costumam saudar uns aos outros quando se encontram para o culto, não deve ser uma formalidade sem significado, mas o sinal visível e externo da caridade mútua nascida de uma resposta comum ao amor do seu Senhor por eles, que deveria caracterizar todo o povo cristão11.

Para os que se perturbam – condicionados por sua formação cultural – com a restauração de antigas práticas do povo de Deus, lembramos a advertência do apóstolo: "Todas as coisas são puras para os puros, mas nada é puro para os contaminados e infiéis; antes o seu entendimento e consciência estão contaminados"12.

Como Vestir
As vestimentas têm desempenhado, entre os povos ditos civilizados, diversas funções: amparo contra o clima excessivamente frio e as intempéries naturais, acobertamento estético para o corpo, em cores, padronagens e modelos que têm variado com as épocas e os povos e, finalmente, elemento de recato ou pudor, igualmente aqui passível de variação nas dimensões tempo-espaço. A indústria de tecido tem feito notável progresso e os especialistas em modas são hoje parte integrante da vida social.

Como encarar a roupa de um ponto de vista cristão? Qual a relação que ela tem com o pecado e o sexo?

O primeiro texto bíblico referente ao assunto diz respeito, surpreendentemente, à ausência de vestimentas: "E ambos estavam nus, o homem e sua mulher, e não se envergonhavam"13. É exatamente o estado do casal original no Jardim do Éden, antes da queda. Adão e Eva não usavam roupa, no princípio. Uma dedução pode ser feita, de que o vestuário não estava no plano divino para o homem.

Com a queda, não somente a terra passa a produzir abrolhos e espinhos, ferindo o corpo do homem, e a natureza torna-se adversa climaticamente, levando-o à necessidade de proteção para sua nova estrutura perecível, mortal, como há uma consciência de culpa em relação ao corpo. Após o pecado original, vemos que "então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; e coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais”14. Adão esconde-se de Deus e, entre as alegações, enumera o fato de sua nudez. "E disse ele: Ouvi a tua voz soar no jardim, e temi, porque estava nu, e escondi-me"15. Comentando o incidente, Meredith G. Kline afirma que Adão respondeu a Deus com uma meia verdade, e que sua sensação de nudez, como a de medo, foram más consequências de sua rebelião. "O sentido de vergonha vinculada à nudez física manifesta a consciência de uma nudez interior, o desvestir na alma a glória de santidade"16. O homem quer se esconder de Deus e se refugia em aventais. Posteriormente, vemos Deus substituir esses aventais por algo mais resistente. Esse ato vem vinculado à queda da terra e à expulsão do paraíso, tendo, portanto, um sentido de proteção do corpo contra a natureza: "E fez o Senhor Deus para Adão e a sua mulher túnicas de peles, e os vestiu"17.

Na comunicação de seus preceitos ao povo de Israel, volta o Senhor a tratar do assunto, prescrevendo: "Não haverá traje de homem na mulher, e não vestirá o homem vestido de mulher, porque qualquer que faz isto abominação é ao Senhor teu Deus"18. R. K. Harrison faz o seguinte comentário ao versículo: "Em uma sociedade onde as roupas de homem e de mulher eram semelhantes, uma diferenciação sexual apropriada era uma importante proteção contra a perversão, a imodéstia e a imoralidade"19. Biblicamente a moda unisex não tem vez. Há uma necessidade de caracterizar externamente a masculinidade e a feminilidade. É claro que o Senhor não desce ao detalhe de qual é o específico tipo de roupa para homem ou para mulher. O homem tem direito a uma criatividade, a indústria têxtil faz progresso pelos séculos a fora, o mesmo se diga da padronagem e dos padrões estéticos. O importante é que não dê lugar à confusão, que não dificulte a caracterização de macho e fêmea, como Deus os criou.

No tempo e no espaço, nas diversas culturas e na História, a moda tem variado muito. No século onde maiores eram as saias, maiores eram os decotes. Depois subiram as saias e diminuíram os decotes. E a coisa segue assim. A roupa masculina tem sido alvo de menor preocupação do que a feminina nas comunidades cristãs. Nos últimos anos, algumas comunidades têm procurado fixar um número determinado de centímetros abaixo do joelho como o ideal cristão de decência. Tudo que altere esse figurino é considerado mundano. O problema é que essa fixação se refere a um tipo de moda determinado, de um povo determinado, em uma época determinada. Porque para os que se fixam em, por exemplo, quatro dedos abaixo do joelho, deve ficar a lembrança de que quando essa moda foi lançada, pelos idos de não sei quando, ela foi considerada mundana pelos defensores de oito dedos abaixo. E, no tempo dos de oito, pelos tradicionalistas de dezesseis. Seguindo assim, chegaremos ao chão, ou ao cobrir total do corpo, deixando de fora apenas o rosto, como os esquimós, que, a propósito, vivem em clima permanentemente abaixo de zero... Não se pode esquecer a influência ecológica e climática na determinação da roupa (em adequação, e não em dissonância), assim como da forte conotação subjetiva e cultural do conceito de decência e pudor.

É dever cristão buscar a discrição e a sobriedade, ressaltando os valores interiores e não a casca exterior, fazendo o seu exterior refletir o interior. Esse reflexo é feito dentro dos padrões e símbolos de onde vive. A causa do Gênesis, porém, não deve ser esquecida.

O pecado do homem tem relacionado erotismo e vestimenta, em muitas épocas, com maior ou menor quantidade de corpo à mostra. Porque, à semelhança do doce proibido à criança, o que não se pode aguça o desejo e o que não se vê aguça a imaginação. O problema, todavia, não está no pano, mas na mente das pessoas. Se é nosso dever evitar o estímulo libidinoso dos doentes mentais pelo pecado, é igualmente nosso dever combater as causas e não as consequências, não incorrendo no pecado de ter vergonha do corpo, nem deixando que o mundo determine o nosso proceder.

A questão do mundanismo é muito mais complexa. Significa todo um estado mental de subordinação aos padrões, conceitos, usos e ideias de criação do homem não regenerado, sem passá-las pelo crivo crítico das Escrituras. Se nós reduzimos mundanismo apenas ao não fazer exterior de algumas tantas coisas, incorremos no perigo de deixarmos passar despercebidas outras tantas mais.

Com decência e modéstia, com asseio e elegância, com recato e beleza, o cristão pode se vestir bem sem se colocar na vanguarda do modismo (muitas vezes ditado por escusos interesses industriais e das casas de alta costura), nem incorporar a grotesca figura de um museu ambulante, o que poderia dificultar a comunicação do Evangelho às pessoas de seu tempo.

Contemplando o Belo
Se lermos o relato da criação, veremos que na perfeição da obra de Deus tudo era belo. O apóstolo João, ao tentar descrever com palavras humanas a visão celestial e a Nova Jerusalém, usa das imagens mais belas conforme os padrões de seu tempo e a valorização dos viventes. Sem dúvida, uma maneira de encararmos as coisas é do ponto de vista estético. As grandes catedrais – sua arquitetura e sua decoração – foram expressões de adoração em beleza, como já o tinha sido o grande Templo de Jerusalém, este por orientação do próprio Deus. A contemplação da beleza da natureza nos leva para perto de seu Criador. O pôr-do-sol, os animais novos, uma cascata cristalina, são expressões da majestade de Deus. E pensar que ele fez tudo isso para o nosso deleite!

As artes plásticas são formas da busca humana para reproduzir, para retratar, para sentir a beleza da criação. A beleza do inanimado e do animado, das rochas e dos seres, dos animais e do homem.

A contemplação do belo é natural impulso da criatura. A sensibilidade estética é um dom de Deus, e devemos exercitá-la. Jamais o pecado poderia ser sua categoria de classificação.

Deixando de lado as deturpações pecaminosas, já vimos que podemos nos acercar do outro, de outro sexo, com o eros e o agape, com o afeto e o sentimento, mas também podemos fazê-lo esteticamente, na contemplação do belo. Em alguns casos essas abordagens se isolam, em outros vêm em conjunto, com preponderância de uma ou de outra forma.

Para frustração dos imorais e desespero dos moralistas, graças a Deus que nem tudo é erotismo.

(Uma Bênção Chamada Sexo, GW Editora, Rio de Janeiro, 2005, 10ª. Edição, pp.177-191).


                                                CREUZA SAMPAIO.

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