terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Absolutos de Deus

A Bíblia nos revela os limites normais e lícitos do comportamento humano nos mais diversos aspectos, inclusive o sexual. Esses limites não são arbitrários, nem se destinam a tornar triste e tensa a existência do homem. Ao contrário, visam sua felicidade e bem-estar. Se desagradam a Deus e podem desagradar ao próximo, a infração desses limites resulta, em primeiro lugar, em dano pessoal àquele que o pratica. São as próprias disciplinas científicas, hoje, que o comprovam. Mantendo os limites dos absolutos de Deus, o homem poderá gozar de maior felicidade, dentro de uma ampla liberdade criativa e responsável. "A lei do Senhor é perfeita, e refrigera a alma...", diz o salmista. Em uma era de relativismo moral, é dever dos cristãos a reafirmação dos padrões bíblicos.

Duas advertências devem ser feitas: a) o perigo de querermos "corrigir" a lista de Deus, por acréscimo ou supressão (os fariseus de todas as épocas têm pecado pelo acréscimo: os imorais, pela supressão); b) procurarmos compreender as normas contextualmente, segundo o conceito de quando foram escritas, e não pelo entendimento que idêntico vocábulo possua em nossos dias.

Vejamos a Palavra:

Bestialidade
"Nem te deitarás com um animal, para te contaminares com ele, nem a mulher se porá perante um animal, para ajuntar-se com ele; é confusão"1.

As criaturas foram feitas "segundo suas espécies", para assim viverem, coabitarem e se reproduzirem. O ato sexual deve ser sempre uma comunicação íntima entre iguais. O homem é a "primícia de toda a criação", dotado de consciência, razão e espírito. A bestialidade, ou relação sexual com as espécies irracionais, degrada o homem de sua dignidade e perverte o plano original do Criador. Manifestação do pecado, é uma conduta mórbida.

No internato de um dos colégios onde estudamos, conhecemos um jovem adolescente, filho de fazendeiro de interior, que era confesso nessas práticas. Seu próprio aspecto denotava uma personalidade doentia.

Muitos não imaginam até onde o homem sem Deus pode chegar!

Homossexualismo
"Com varão não te deitarás, como se fosse mulher. Abominação é"2.

Muito cedo, na Bíblia, vamos encontrar esse pecado, chamado de sodomia em razão do incidente narrado em Gênesis 19, quando os habitantes da corrupta Sodoma tiveram intenções dessa natureza em relação aos anjos que falavam com Ló, o que acarretou a destruição da cidade.

Paulo fala que esses homens, que não aceitam a manifestação de Deus, ele "os abandonou às paixões infames" e os entregou "à concupiscência de seus corações, à imundícia, para desonrarem seus corpos entre si"3. Explicitando, dentre outros usos contrários à natureza, aponta o apóstolo dos gentios: "E, semelhantemente, também os varões, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, varão com varão, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha a seu erro"3.

O homossexualismo feminino é conhecido como lesbianismo, o masculino como pederastia. Uma forma especial é a pedofilia, ou atração sexual por crianças.

Segundo o Dr. Albert Ellis, as mães que prendem o seu filho "à barra da saia" são grandemente responsáveis por sua futura não atração emocional ou sexual por mulheres e pela procura da convivência com pessoas do mesmo sexo. A psicologia e a psicanálise têm conseguido estudos avançados na causalidade imediata e remota do problema, que vem proliferando assustadoramente em alguns países4. O pior, contudo, é a aceitação social – e de estudiosos – dessa conduta, como "nova forma de moralidade", com as legislações regulamentando o "quase-casamento", ou "união mutuamente consentida entre adultos". Até "igrejas" são organizadas para essas pessoas. Há pouco, víamos em um jornal o "casamento" entre duas pessoas de sexo masculino em uma "igreja" nos EUA, com "bênção" nupcial, corte de bolo etc.5. Essa atitude é tão errônea quanto a de considerá-los como animais, sub-homens, sujos, ou pessoas irrecuperáveis.

Sabemos que é o pecado dos pais, ou do grupo social, muitas vezes o responsável, sem negarmos que a opção última é do próprio indivíduo. No contexto do capítulo primeiro da Carta aos Romanos, essas coisas são indicadoras da corrupção do homem e da necessidade de apelarmos para a graça e misericórdia de Deus, para o seu perdão e restauração.

Podemos resumir, assim, as conclusões de um debate sobre o assunto com psiquiatras e psicólogos evangélicos:
1.   Todos nós temos hormônios masculinos e femininos dentro de nossos corpos, com nítida predominância de uma qualidade. É muito rara a influência biológica no homossexualismo.
2.   Há uma etapa homossexual (sentido amplo) no desenvolvimento interpessoal do indivíduo. Na adolescência os rapazes gostam de andar juntos, para jogar futebol ou sinuca; as moças, juntas, discutem fotonovela e sentem prazer na companhia do mesmo sexo que, inclusive, serve para fixar suas próprias características.
3.   A expressão afetiva tísica do amor se faz presente em nosso relacionamento com qualquer sexo, o que não deve incluir a atração erótica.
4.   Há gradações de homossexuais, desde a mera tendência ocasional até o extremo da "deslumbrada" ou "mulher-homem".
5.   Não há tendências inatas ou irreversíveis. A recuperação é possível para todos os casos.
6.   Podemos encarar o homossexualismo como enfermidade sob duplo aspecto: psiquiátrico e espiritual.
7.   Em termos de culpa, temos que distinguir três etapas:
a)   o mero impulso;
b)   o cultivo voluntário da ideia e dos devaneios eróticos;
c)   a prática do ato.

Daniel Tinao, pastor e psiquiatra batista argentino, acha que o pecado toma uma conotação pessoal nas etapas b e c. Na etapa a o indivíduo é mais uma vítima, mais um enfermo que pecador. Entra em jogo também a questão de como o indivíduo encara o fato:
a)   aceita a coisa como normal e a pratica sem constrangimento: categoria da culpa mostrada por Paulo;
b)   aceita a coisa como anormalidade, mas não busca uma saída, rejeitando a si mesmo, o que pode levar ao desespero, à fuga no álcool e nas drogas ou ao suicídio, o que agrava o problema;
c)   aceita o fato como anormalidade, mas não se atormenta com a ideia de que é um pecador pior do que os outros, buscando em Cristo a nova vida, e no cientista (muito preferivelmente um cristão) o auxílio terapêutico, quando necessário.

Em muitos casos a tendência é erradicada; em outros, permanece latentemente, mas sem interferir no comportamento heterossexual, como mero "espinho na carne", de maneira semelhante à tendência à embriaguez ou ao furto, mantidas sob o controle do Espírito. Um cristão enquadrado nesse caso disse que isso servia para mantê-Io em constante estado de humilhação e dependência diante de Deus, que o usava em seu ministério segundo sua graça. Aqui é bom lembrar a oração do fariseu e do publicano no templo. Quem desceu perdoado? Aquele que se achou indigno diante do Senhor.

"Como seria bom ter certeza de que ele me aceita, que ele me libertará, que me dará vida nova, paz e um mundo novo".

"Sinceramente, eu não tenho fé suficiente para acreditar que serei livre completamente, acho que é maravilhoso demais para acontecer e acredito não merecer tão grande bênção".

"Eu vou continuar firme no meu propósito de libertação, isso eu prometo; só lhe peço que, por favor, me ajude, não me abandone nem me deixe fraquejar!"

São trechos de cartas de alguém que, tendo o problema, busca a libertação.

O Senhor liberta, perdoa e restaura.

Cabe à comunidade cristã desempenhar importante papel na recuperação dessas pessoas. Infelizmente, nem sempre, por preconceito, as confrontamos com a mensagem do Evangelho, ou as ajudamos no caminhar após a conversão. Presenciamos, há anos, em um acampamento de universitários, o triste comportamento de alguns "cristãos" – inclusive dois seminaristas – espalhando a notícia e colocando no ridículo aquele que buscava auxílio.

Prostituição
"Porque esta é a vontade de Deus, a vossa santificação, que vos abstenhais da prostituição"6.

O termo significa, literalmente, "colocar-se diante, oferecer-se para venda", aplicando-se ao recebimento de vantagens pecuniárias pelo emprego indiscriminado do próprio corpo para fins libidinosos. A prostituição é encontrada nas mais antigas civilizações. A proibição do Senhor era taxativa: "Não haverá rameira dentre as filhas de Israel...".7 Os pais são advertidos: "Não contaminarás a tua filha, fazendo-a prostituir-se; para que a terra não se prostitua, nem se encha de maldade"8.

Aos cristãos em Corinto, Paulo condena a prostituição por ser pecado cometido contra o próprio corpo. O cristão, cujo corpo é o templo do Espírito Santo, não deve juntar-se a uma meretriz, pois se tornaria um corpo com ela, pela união carnal. "Não sabeis que vossos corpos são membros de Cristo? Tomarei pois os membros de Cristo, e fá-los-ei membros de uma meretriz? Não, por certo"9.

Muitas pessoas simplificam o problema, achando que a prostituição tem apenas uma causa econômica e não moral. Reconhecemos que a miséria e a ignorância possam favorecer o florescimento do mal. Mas se olharmos para a História e para o quadro contemporâneo, verificaremos que a prostituição é encontrada em situações as mais diversas, desde os miseráveis lupanares de beira de cais até as "bocas de luxo" onde corre o dinheiro. Diante da posição bíblica, é dever da comunidade cristã:
a)   educar os filhos para que se afastem dos bordéis;
b)   fomentar, junto às autoridades públicas, o combate às causas econômicas, sociais e morais da prostituição;
c)   promover intensiva ação evangelística nas zonas de meretrício, seguida de assistência social àqueles que desejarem uma nova vida.

A sífilis e outras doenças venéreas estão em maré enchente, outra vez, em todo o mundo, prejudicando o indivíduo e os descendentes. As autoridades médicas apontam a prostituição, aberta ou disfarçada, como a causa transmissora desse macabro intercâmbio de germes.

Ao jovem crente, a advertência para não ir na onda dos amigos e colegas, na busca da prova de masculinidade, com o risco da própria saúde e em desobediência à Palavra de Deus.

Fornicação
"Mas, quanto... aos fornicários... a sua parte será no lago que arde com fogo e enxofre..."10.

Enquanto a ênfase na prostituição é na mulher, como conduta sexual altamente irregular, a ênfase na fornicação é no homem, como delito de prática sexual pré-conjugal ou extraconjugal, na quebra da castidade com alvo moral de vida cristã. Porque é certo que muitos jovens nunca foram à "zona", nem nunca tiveram relações com uma prostituta (escrito senso), mas andam "dando voltinhas" com garotas livres. E justamente nas "voltinhas" é que entra a fornicação. O contato dos filhos dos senhores com as escravas, dos filhos dos patrões com as empregadas domésticas, os passeios com garotas "de programa" – mesmo as que possuem profissão regular ou sejam estudantes – se enquadra nessa tipologia delituosa. Muitos jovens se arriscam a esse tipo de relacionamento fortuito, descomprometido, sem envolvimento afetivo. E, a não ser que a moça seja menor ou venha a engravidar – quando a coisa se complica – geralmente fica por isso mesmo.

O tão propalado "amor livre" é uma forma moderna e "culta" de dizer a mesma coisa. É o egoísmo entronizado, a manipulação dos sentimentos, a coisificação do sexo, a irresponsabilidade do homem. Do ângulo deste é também uma forma de prostituição, de junção do corpo de Cristo com as filhas das trevas.

Essa parece ser a tendência crescente em todo o mundo. O Brasil já mantém o título pouco invejável, por séculos, de recordista mundial de fornicação, com seus caçadores de fêmeas. Aos jovens cristãos, em nome do Senhor, recomendamos também aqui o atendimento à Palavra de Deus, conservando puros seus corpos.

Estupro
Ao povo de Israel foi dada a proibição de relações sexuais à força. Se a virgem fosse noiva, o criminoso deveria ser morto, pois, sendo o noivado um compromisso muito sério, a moça já era de um próximo. Se a moça não fosse noiva, o criminoso pagaria uma multa ao pai dela, e com ela era obrigado a casar11

Esse delito é condenado nas diversas legislações dos Estados seculares. O Código Penal Brasileiro pune, com pena de reclusão de três a oito anos, quem "constranger mulher a conjunção carnal, mediante violência ou grave ameaça" (artigo 213), no seu capítulo Dos Crimes Contra a Liberdade Sexual.

Um ato espontâneo, fruto da livre manifestação de amor de duas partes, é substituído pelo recurso à força, à brutalidade, ao instinto desenfreado que sobe à cabeça. Do Senhor somente era de se esperar a reprovação.

Incesto
Em Levítico, capítulo 18, Deus trata das uniões com a parentela mais chegada, proibindo-a com o pai, a mãe, a madrasta, os cunhados e meio-irmãos, enteados, tios noras, genros, sogros e netos. Não se proíbe a união entre primos.

Para Osvald T. Allis: "O princípio em que se baseiam tais proibições, não há dúvida, é única e exclusivamente o parentesco, que torna antinaturais ou inconvenientes aquelas familiaridades, donde podem resultar ou a esterilidade ou o nascimento de filhos enfermiços ou defeituosos"12.

Esses casos praticamente não são encontrados, hoje em dia, nas comunidades cristãs.

Coitos Abusivos
Em uniões carnais heterossexuais, mesmo com a própria esposa, dois tipos de conjunção são biblicamente condenados:
a) durante a menstruação: "Se um homem coabitar com ela e a sua menstruação... será imundo". “Não te chegarás à mulher, para lhe descobrir a nudez, durante a sua menstruação''13.
É dispensado comentar o incômodo, o inestético e o anti-higiênico desse ato.

b) o coito anal: "Pelo que Deus os abandonou às paixões infames: porque até as suas mulheres mudaram o uso natural, no contrário à natureza”14.

Deus faz as coisas de uma maneira, os homens partem para outra e se dão mal. Isso é uma constante do pecado. Se o Senhor tão bem fez os órgãos genitais, com sua destinação natural, para que o homem apela para tão errônea "inovação"? As lesões locais e a contaminação bacteriana se encarregam de uma punição mais imediata. O próprio querer assim é revelador do estado mental e espiritual do indivíduo.

Adultério
"Não adulterarás".

"Se um homem for achado deitado com uma mulher que tem marido, então ambos morrerão, o homem que sei deitou com a mulher e a mulher: assim eliminarás o mal de Israel"15.

A compreensão do adultério no Velho Testamento é um pouco diferente da que temos na civilização e no direito do Ocidente e na tradição das comunidades cristãs. Nestes, o adultério tem sido entendido como qualquer ligação sexual fora do casamento, tanto pelo homem como pela mulher. Na sociedade de Israel, de tônica patriarcal e, em várias ocasiões, de licitude poligâmica (do tipo poligínico: um esposo e várias esposas), o adultério tinha como figura a mulher casada. Era isso que configurava o delito. O homem envolvido, não importava se solteiro ou casado, era réu de adultério. Em algumas sociedades contemporâneas, o homem casado que tem um caso com uma mulher solteira é considerado um adúltero, e o rapaz solteiro que tem um caso com uma mulher casada é considerado um fornicário. No Velho Testamento é justamente o inverso: o homem casado, nesse caso, é um fornicário, e o rapaz solteiro, um adúltero.

É nesse sentido que Cristo, em Mateus 5:32, adverte para a concessão indiscriminada de divórcio, afirmando que o que casar com tais mulheres comete adultério. Ele liga o sétimo mandamento com parte do décimo quando afirma: "Ouvistes o que foi dito: Não adulterarás. Eu, porém, vos digo: Qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no coração já adulterou contra ela"16. Muita gente tem confundido esse versículo por não atentar para o contexto imediato, nem para o conceito de adultério em Israel. Cristo está, obviamente, se referindo a uma mulher casada, em consonância com o décimo mandamento: "Não cobiçarás a mulher de teu próximo". Cobiçar uma mulher solteira, para fins unicamente libidinosos, não seria adultério, mas lascívia. E, se fosse para casar, não seria nem uma coisa nem outra, e sim um justo desejo, pois a libido foi dada por Deus. Falamos isso por já termos ouvido de jovens com forte sentimento de culpa porque queriam não estar desejando ninguém. Queriam desligar a libido até o dia do enlace matrimonial, o que seria antinatural.

Ainda discutindo essa questão, pergunta-se porque Deus não falou no décimo mandamento: "Não cobiçarás o cônjuge de outrem", e Cristo não disse: "Qualquer que olhar para um ser de outro sexo com intenção impura já adulterou contra ele...". Essa seria a redação desejada pela ética e pelo Direito de nossos tempos, calcados no princípio da isonomia. Isso porque, obviamente, ninguém pensa que a mulher seja incapaz de cobiçar ou desejar...

É claro que, dentro de uma perspectiva bíblica, algumas cobiças ou desejos das mulheres poderiam, de acordo com o caso, ser enquadrados em dois delitos, pelos menos: prostituição e lascívia.

No contexto matrimonial poligâmico, contudo, seria impossível a equiparação desejada. O desejar a mulher de um próximo (mulher casada), atitude ilícita, pecaminosa, tinha um sentido bem literal, pois era considerado lícito desejar a mulher sem próximo (mulher solteira), para tê-Ia, também, como esposa. E o inverso tinha que ser também verdadeiro: não desejando de modo prostituído ou lascivo tomar o marido da próxima, mas apenas ser uma co-esposa, o desejo adquiria um sentido de licitude. A esse respeito, John D. Davis é claro e taxativo: "De acordo com a legislação antiga, a poligamia e o concubinato não eram considerados adultério"17.

O adultério envolve o problema da fidelidade. No contexto supra referido, a fidelidade tinha um cunho personalista, para a mulher: fidelidade à pessoa do marido. A fidelidade masculina, por sua vez, se manifestava de modo institucional: fidelidade ao matrimônio, à casa, à família, possuindo ora uma dimensão pessoal (monógamos), ora grupal (polígamos). O marido deveria abster-se das práticas proibidas por Deus – pré-matrimoniais ou extramatrimoniais – limitar sua vida sexual ao casamento, sustentar e educar a família e dispensar à esposa (ou esposas) o amparo e a proteção requeridos. Não se falava de traição ou rompimento contratual, porque as mulheres e a sociedade aceitavam as regras vigentes. A mulher em Israel, mesmo assim, possuía o tratamento mais humano dentre os povos da época.

No tocante ao adultério, ninguém deve deixar de ler em João 8 o incidente com a mulher. Era costume matá-Ias apedrejadas. Jesus pediu que aquele que não tivesse pecado atirasse a primeira pedra. Como ninguém o fizesse, e todos se retirassem, Jesus travou com ela o diálogo: "Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou?" E ela respondeu: "Ninguém, Senhor". E disse-lhe Jesus: "Nem eu também te condeno; vai-te, e não peques mais".

O tratamento na época da Lei e na época da Graça é diferente. O erro continua sendo erro. Mas agora tem-se presente o perdão pelo arrependimento eficaz: o não continuar no pecado. É a força recuperadora do Evangelho para os que querem andar em novidade de vida. Para os acusadores, o Senhor pede um exame de consciência e, o mais importante, deixa claro que pecado é pecado, não há maior nem menor. É uma lição para o trabalho pastoral e uma advertência para as sessões plenárias disciplinadoras.

Lascívia
"Mas, as obras da carne são: ... lascívia..."18.

Lascívia quer dizer: libidinagem, sensualidade, impudicícia, imoralidade, licenciosidade.
Esse pecado não diz respeito a um ato isolado, mas a um estado de espírito que conduz a uma série de ações condenáveis. É o indivíduo sexocêntrico. Só pensa em sexo, só fala em sexo, só lê sobre sexo, só ri se a piada tem sexo, e assim por diante. Não somente é um maníaco, mas possui uma visão imoral da coisa. Um lascivo está potencialmente pronto para cometer qualquer um dos outros delitos sexuais mencionados. Procura viver em uma constante auto-excitação. A libido a todo o vapor. Vive-se um amoralismo, sem normas, nem padrões. A História e a situação atual mostram que essa é uma das características mais frequentes do homem natural.

* * * * * * * * *

Pensemos na advertência da Palavra de Deus: "Porém qualquer que fizer uma destas abominações, as almas que as fizerem serão extirpadas do seu povo. Portanto guardareis o meu mandamento, não fazendo nenhum dos estatutos abomináveis que se fizeram antes de vós, e não vos contamineis com eles: eu sou o Senhor vosso Deus"19.
Alguns poderão se julgar fora do esquema, por não se enquadrarem em nenhum delito específico. Paulo chama mais atenção para o subjetivo e não para a letra da Lei. A lista das obras da carne não é totalizante, mas tem um etcetera: “...e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos declaro como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas não herdarão o reino de Deus”20.

O mau uso do sexo – como o mau uso de outras bênçãos dadas por Deus – é um sinal de pecaminosidade do homem e da sua necessidade de reconhecer seu erro, arrepender-se, e buscar o perdão e a remissão mediante o sangue de Cristo. Diante desse quadro, a missão evangelística de cada cristão é enfatizada, pois somos enviados para anunciar libertação aos cativos, aos presos pelo pecado. Nossa abordagem deve ser feita conforme a observação de Lutero: "Aos empedernidos, a Lei; aos angustiados, a Graça".

Como novas criaturas, ainda possuímos a velha natureza e temos um inimigo que nos rodeia, procurando ver nossa queda. Na fraqueza, não estamos isentos de cometer esses erros. Devemos buscar as armas do Senhor para evitar que isso aconteça. Se ocorrer, não devemos ficar no chão, mas podemos, e devemos, nos erguer outra vez, pois a santificação é a nossa meta.

Não devemos ficar paralisados, atemorizados e amedrontados diante desses desvios. A sexualidade como bênção continua para os que procuram viver no Espírito. Não é pela norma exterior, mas pela graça interior que vamos viver em toda a plenitude.

Desse modo, você pode orar:
"Obrigado, Senhor, pela consciência de pecado, pela graça do perdão e pela nova vida. Sustenta-me enquanto caminho, levanta-me se caio, e que a bênção do sexo seja real para mim".

Casamento Misto
Poderia parecer estranha a colocação deste assunto neste capítulo, e não no que trata da questão matrimonial. Fizemo-lo para realçar o fato de que também este problema se inclui entre os absolutos de Deus, a despeito da ampla tolerância que vem recebendo em respeitáveis círculos eclesiásticos.

Todo casamento, em certo sentido, é misto, envolvendo partes diferentes: um homem e uma mulher. Há outros aspectos em que o casamento pode ser também misto: preto e branco, japonês e sueco, letrado e ignorante etc. Essas diferenças, de cunho étnico ou cultural, pesam em termos de ajustamento, mas são secundárias na unidade do mesmo espírito. Um tipo de casamento misto, contudo, é expressamente condenado por Deus: um servo do Senhor e um não-servo. O jovem leitor poderá achar que o autor é um tanto ultrapassado. "Lá vem ele com a velha conversa", poderá pensar. O assunto é mais sério do que se pensa, e um dos maiores problemas nesse campo. Poderíamos, tranquilamente, colocá-lo entre as condutas pecaminosas.

Não nos referimos ao aspecto formal ou exterior, mas ao autêntico e espiritual. Não é o caso do casamento de um "evangélico" e um "não-evangélico". Não é a filiação à igreja local o que mais conta. Muito menos o ser filho de diácono, pastor ou zelador. Porque nesse caso poderemos encontrar a figura de um tipo de casamento misto que muitas vezes passa despercebido: o de um cristão com uma "protestante". A filiação à igreja local, o ser membro de família "tradicionalmente evangélica", o confessar intelectualmente as doutrinas bíblicas, o cantar no coro, pode não dizer nada. A questão é saber se a pessoa é ou não regenerada, é ou não convertida, nasceu ou não nasceu de novo. Se a resposta é negativa, o casamento será misto (casamento misto intraeclesiástico). Se a pessoa vem de fora da igreja, ou ainda não é membro professo, mas encontrou o Senhor em genuína experiência, o casamento não será misto. É preciso que os cristãos atentem mais para o lado espiritual da coisa e menos para o lado formal, jurídico, exterior.

Muitos jovens poderiam se enquadrar na situação descrita em Gênesis: "Viram os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas, e tomaram para si mulheres de todas as que escolheram”21. Sendo formosas, não importam as origens, não importam as afinidades espirituais. Depois é que a coisa se complica. O esfriamento espiritual e a apostasia seguem-se quase sempre em um casamento misto. No caso de Israel, o Senhor explica o porquê de sua recomendação: "Nem te aparentarás com elas; não darás tuas filhas a seus filhos, e não tomarás suas filhas para teus filhos; pois fariam desviar teus filhos de mim, para que servissem a outros deuses... e a ira do Senhor se acenderia contra vós, e depressa vos consumiria"22. Vale recordar o fim de Sansão, indo na conversa de Dalila, filha dos filisteus, ou a queda de Salomão, a quem o Senhor abençoara grandemente, mas que desagradou a Deus juntando-se com mulheres de outros deuses. Somos levados a concordar com Sweeting, quando diz: "Casar-se com um ou uma descrente é casar-se, muitas vezes, com as suas descrenças"23.

Em Esdras, capítulos 9 e 10, vemos a reação dos homens de Deus aos casamentos mistos, na época da reconstrução do templo. Essa prática é chamada de "mistura", "transgressão", "iniquidade" e "culpa". O escritor inspirado diz ter ficado "atônito", "aflito" e "envergonhado" diante daquele quadro. Rasga as vestes, arranca o cabelo e a barba, clamando a Deus perdão, confessando a culpa da casa de Israel. Em seguida, decreta-se a obrigatoriedade do divórcio de todos os casais mistos. E assim se fez.

Se muitos são os exemplos do Antigo Testamento, encontramos, também, no Novo Testamento, a advertência para não nos prendermos em jugo desigual com o infiel, porque não há possibilidade de sociedade entre a luz e as trevas. A promessa de que o Pai nos receberá como filhos exige que nos apartemos dessas uniões. "E que consenso tem o templo de Deus com os ídolos? Porque vós sois o templo do Deus vivente, como Deus disse: Neles habitarei, e entre eles andarei; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo"24.

Nós somos membros do Corpo de Cristo e somente nos deveríamos unir – na mais íntima das uniões – com outros membros desse corpo. O problema aqui não é pensar apenas em um conceito humano de "felicidade", em saber se o cônjuge é educado, rico, atencioso, delicado, sensual, bonito, bom marido etc.; mas em uma desobediência a Deus, em uma união não santificada em passarmos parte de nossa vida com alguém que não ficará conosco na eternidade. Sem Cristo no centro a união terá sempre um toque de superficialidade. Razões humanas, apenas, serão responsáveis pelo tipo de vida que levaremos.

Interpretando erroneamente o "tomar a cruz", uma mulher chegou para seu pastor, dizendo que o marido, que gostava de uns “pileques e que ridicularizava sua crença, era a cruz que Deus lhe tinha dado”. O pastor perguntou se ele já era assim quando solteiro. A mulher respondeu que sim. O pastor replicou: "Não, minha irmã, essa não é a cruz que Deus lhe deu, mas uma cruz que a senhora mesma escolheu".

Quando Paulo tratou do problema aos Coríntios, falando que o cônjuge descrente é santificado pelo cônjuge crente, para santidade dos filhos e para a sua possível conversão, ele estava se referindo aos casais já existentes, e não estimulando novas uniões desse tipo.

Poderiam perguntar: será que Deus, de vez em quando, não converte uns cônjuges infiéis, por sua misericórdia, mediante a intercessão do cônjuge fiel? Para Deus nada é impossível. Mas isso ocorre bem menos frequentemente do que se pensa. Se isso é uma batalha espiritual, estará o cônjuge crente adestrado para essa batalha, ou entregará os pontos rapidamente? Quem influenciará quem?

É preciso estar bem seguro da vontade de Deus. Caso contrário, estaremos apenas enganando a Deus e a nós mesmos com palavras bonitas, para justificar nossa conduta desobediente, muitas vezes desesperada pelo medo do celibato involuntário em um tempo monogâmico, de disponibilidades limitadas. Se entregarmos verdadeiramente a Deus nossa esfera sentimental, ele nos dará uma resposta, que será sempre o melhor para nós, embora nem sempre seja a resposta que queríamos que fosse. O que não podemos pedir é que ele nos responda contrariando a própria norma que instituiu.

"Fala, Senhor, porque o teu servo ouve!"

                                                      CREUZA SAMPAIO.

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