sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

A Direita e a Esquerda Estão Superadas?

Durante a Assembleia Nacional francesa pós-revolucionária, os defensores do antigo regime monárquico e aristocrático costumavam se sentar na bancada à direita do Presidente, e os defensores da revolução republicana burguesa se sentavam no lado esquerdo, com os mais moderados (girondinos) mais perto do centro e os mais exaltados (jacobinos) mais na parte extrema. Esse foi o surgimento histórico da classificação política de denominar de “direita” os conservadores da ordem estabelecida e de “esquerda” os proponentes de uma ordem alternativa. Portanto, essa origem nada tem a ver com marxismo ou com comunismo, então inexistentes.

Direita já representou defender o vínculo das colônias com a metrópole, e esquerda a defesa da independência; direita já representou defesa do escravismo, e esquerda a defesa da abolição; direita já representou defesa da monarquia, e esquerda defesa da república, e assim por diante.

Se, diante de um modo de produção escravista ou feudal (direita), a defesa da implantação do capitalismo foi tida como de esquerda, o mesmo se diga da defesa da democracia contra a ditadura.

O Socialismo já tinha seus defensores no Cristianismo Protestante pós-Reforma, com os Niveladores e os Cavadores ingleses, ou, posteriormente, com os católico-romanos franceses Lacordaire e Lammenais, como vamos encontrar um Socialismo de cunho judaico que governou o atual Estado de Israel, por muitos anos, desde a sua fundação, bem como um Socialismo islâmico no norte da África e no Oriente Médio.

No século XIX tivemos o Socialismo dito “utópico” de Fourier, Owen e Saint-Simon. O marxismo – em suas várias manifestações – foi apenas uma das propostas socialistas e uma das propostas da esquerda. Em geral, quando no poder, os marxistas não apenas perseguiam conservadores e liberais, mas, também, outras propostas de esquerda, como o Anarquismo e o Socialismo Democrático (social-democracia).

Tivemos, na Idade Contemporânea, uma direita totalitária, representada pelo Nazismo e pelo Fascismo, uma direita autoritária ideológica (Franco, Salazar), uma direita autoritária não-ideológica (ditaduras, monarquias absolutas), e, por outro lado, uma esquerda totalitária (stalinismo, maoísmo), uma esquerda ideológica autoritária (manifestações do socialismo islâmico e africano). Mas, o conservadorismo e o liberalismo (com profundas diferenças entre Europa e América do Norte) têm sido expressões de uma direita dentro do jogo democrático formal, enquanto o Socialismo (da II Internacional), a Social-Democracia e setores da Democracia Cristã, têm sido expressões de uma esquerda também dentro de um pacto democrático constitucional.

Sem dúvida, a derrota da União Soviética e dos seus satélites foi a derrota de uma vertente da esquerda, mas não da esquerda como um fenômeno seja reformista, seja revolucionário. A vitória conjuntural dos Estados Unidos e da proposta econômica neoliberal representou, ao nível geopolítico, a vitória de uma vertente da direita, na atual conjuntura, mas isso não quer dizer que tenha desaparecido o conflito ideológico como os detentores do poder mundial procuram fazer crer.

O filósofo social italiano Norberto Bobbio e o Arcebispo Emérito de São Paulo Dom Paulo Evaristo Arns, têm um pensamento convergente: “Enquanto existir um mundo de desigualdades não-naturais, com seus defensores e seus críticos, continuará a haver uma direita e uma esquerda, com um conteúdo adaptado às circunstâncias”.

Um dos problemas políticos do Brasil é justamente a falta da nitidez programática e ideológica dos seus partidos e dos seus líderes.

Paripueira (AL), 11 de fevereiro de 2010,
 Anno Domini.
+Dom Robinson Cavalcanti, ose
Bispo Diocesano

                                REVERENDO SAMPAIO.

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